A minissérie de suspense ‘Desobedientes’ (Wayward) chegou à Netflix e rapidamente se tornou uma das mais assistidas, chocando o público com sua representação de uma escola para “adolescentes problemáticos”. A trama é tão perturbadora que muitos espectadores se perguntam: a Academia Tall Pines e seus métodos brutais são baseados em uma história real?
A resposta é complexa. A série é uma obra de ficção, mas foi profundamente inspirada em experiências pessoais e em um movimento real e controverso da história americana.
A Inspiração Pessoal: A Melhor Amiga da Criadora
A criadora da série, Mae Martin, revelou que a principal inspiração veio da experiência de sua melhor amiga na adolescência. Nos anos 2000, a amiga foi enviada contra a vontade para uma dessas instituições nos Estados Unidos.
“Ela foi levada para a fronteira e algemada no meio da noite, e ficou desaparecida por dois anos”, explicou Martin à revista People. “Ela acabou escapando descalça pela floresta e pegando carona pelo estado, e se viu em uma situação muito perigosa.”
Martin afirma que a amizade entre as personagens Abbie e Leila na série é diretamente baseada em sua relação com a amiga, que atuou como consultora na produção.
A Inspiração Histórica: O Culto Synanon
Para construir a filosofia e os métodos de terapia de confronto da Academia Tall Pines, Mae Martin pesquisou a fundo a história do Synanon, um grupo que começou como uma comunidade de reabilitação de drogas nos anos 60 e se transformou em um culto violento e controlador nos anos 70.
Fundado por Charles Dederich, o Synanon utilizava uma tática de “terapia de ataque” chamada “O Jogo”, na qual os membros se confrontavam verbalmente de forma agressiva para depois se abraçarem — uma prática quase idêntica à retratada no terceiro episódio de ‘Desobedientes’. Com o tempo, o grupo se tornou mais radical, obrigando membros a rasparem a cabeça e controlando todos os aspectos de suas vidas, até ser desmantelado após atos de violência.
A Crítica à “Indústria de Adolescentes Problemáticos”
Ao unir essas duas fontes, a série tece uma crítica contundente à “indústria de adolescentes problemáticos”, um setor pouco regulamentado nos Estados Unidos, composto por internatos e acampamentos que prometem “corrigir” o comportamento de jovens através de métodos psicológicos controversos e, muitas vezes, abusivos.
“Muitas dessas coisas que parecem muito exageradas e cheias de suspense na série, na verdade, têm muito de verdade”, disse Martin. Para ela, a série usa o suspense como uma “metáfora útil para todos os tipos de sistemas opressivos pelos quais somos seduzidos”.
