Crítica | ‘Sirât’: Vencedor em Cannes é um ‘Mad Max’ Existencial e uma Jornada Brutal ao Inferno

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‘Sirât’, o novo filme do diretor Oliver Laxe, não é uma experiência fácil. É uma obra divisiva, não por ser “ame ou odeie”, mas por sua coragem em mudar completamente de tom no meio do caminho. Vencedor do Grand Prix em Cannes e o indicado da Espanha ao Oscar 2026, o filme, co-produzido pelos irmãos Almodóvar, é uma fusão brutal de drama existencial e terror de sobrevivência, evocando clássicos como O Salário do Medo e Mad Max.

O filme é uma jornada de martírio que força o público a sofrer junto com seus personagens, e o resultado é um dos desafios cinematográficos mais interessantes e poderosos do ano.

A Trama: A Busca na Rave

O primeiro ato nos apresenta a Luis (Sergi López) e seu filho, Esteban, que chegam a uma gigantesca e caótica rave no deserto do Marrocos. Eles não estão lá pela festa: estão em uma busca desesperada pela filha mais velha, desaparecida meses antes em um evento similar. O diretor Oliver Laxe estabelece com maestria a atmosfera de loucura, vazio e busca existencial daquele ambiente, antes de puxar o tapete do espectador.

A Reviravolta: A Ponte Para o Inferno

É em sua “virada de chave” que Sirât se revela. O filme muda de um drama investigativo para um faroeste impiedoso sobre sobrevivência. A mudança de tom é a chave para entender o título: na tradição islâmica, “Sirât” é a ponte fina como uma lâmina que atravessa o inferno no Dia do Juízo. Só os justos a atravessam; os pecadores caem.

No filme de Laxe, a ponte é uma sentença: todos caem. Os personagens são negados o direito ao luto, à quietude ou à redenção. A jornada se metamorfoseia em uma necessidade constante de movimento, transformando a dor em um impulso para a ação, mesmo que essa ação não leve a lugar nenhum.

Uma Execução Impecável

Tecnicamente, o filme é uma obra-prima. A cinematografia de Mauro Herce transforma o deserto marroquino em um personagem vivo, um espelho do desespero dos protagonistas. A trilha sonora de Kangding Ray, premiada em Cannes, aprofunda a sensação de um colapso inevitável.

Veredito

‘Sirât’ é uma demolição cuidadosa da ilusão de salvação. É um filme que pode parecer confuso em seu final, mas apenas porque se recusa a entregar as respostas fáceis que esperamos. Laxe admite que alguns caminhos não levam a lugar nenhum, e que essa jornada caótica, por vezes, é tudo o que temos. É uma obra difícil, mas de uma honestidade brutal.

‘Sirât’ estreia nos cinemas brasileiros em 15 de janeiro de 2026.

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