Crítica | ‘O Clube do Crime das Quintas-Feiras’ Traz Elenco Irresistível, Mas Perde a Alma do Livro

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Adaptar um best-seller como “O Clube do Crime das Quintas-Feiras”, de Richard Osman, para um filme de duas horas na Netflix é uma tarefa de sacrifícios. O desafio é decidir o que cortar de uma obra cuja magia reside nos detalhes. A versão cinematográfica, dirigida por Chris Columbus (Harry Potter), acerta em cheio ao capturar o charme de seus protagonistas, mas, no processo, deixa para trás parte da profundidade que tornou o livro um fenômeno.

O Brilho do Quarteto: Um Elenco Simplesmente Perfeito

O maior trunfo do filme é, sem dúvida, seu elenco. O quarteto de aposentados investigadores é irresistível e a química entre eles é o que sustenta a narrativa.

  • Helen Mirren, como a ex-espiã Elizabeth, está magnífica, roubando cada cena com um olhar astuto e uma autoridade natural que a torna a líder indiscutível do grupo.
  • Pierce Brosnan (o líder sindical Ron), Ben Kingsley (o psiquiatra Ibrahim) e Celia Imrie (a enfermeira Joyce) completam o time de forma brilhante, sem nenhum elo fraco. O roteiro é hábil em fazer com que o espectador se sinta um velho conhecido desses personagens encantadores.

O filme também acerta ao construir um senso de comunidade vívido ao redor do quarteto, desenvolvendo bem as relações com personagens secundários e convencendo o público a querer viver naquele mundo.

O Dilema da Adaptação: O Que Ficou Pelo Caminho

Se o carisma dos personagens foi mantido, a complexidade moral e narrativa do livro foi a principal vítima dos cortes. O romance de Osman usa o mistério como pretexto para explorar as ricas e secretas histórias de vida de cada personagem. No filme, simplesmente não há tempo para isso.

Mais do que isso, a adaptação perde a bússola moral afiada do autor. No livro, Osman tece uma crítica social precisa, traçando uma linha clara entre os culpados e os inocentes, tanto no crime quanto na vida. O filme, buscando um apelo mais comercial, suaviza essas críticas, resultando em uma resolução mais simples, onde o privilégio dos ricos e poderosos não é questionado com o mesmo rigor.

A Direção e a Crise de Tom

É no terceiro ato que os problemas se tornam mais evidentes. A direção funcional, por vezes “quadrada”, de Chris Columbus começa a incomodar, e o ritmo do roteiro vacila. O filme parece indeciso sobre o tom que deseja atingir, oscilando entre a comédia de mistério aconchegante e o drama social, provavelmente em uma tentativa de agradar a todos os públicos da Netflix.

Veredito

“O Clube do Crime das Quintas-Feiras” na Netflix é uma adaptação charmosa e divertida, elevada por um elenco de veteranos em estado de graça. Para quem não conhece o livro, o filme funciona como um entretenimento leve e cativante.

No entanto, para os fãs da obra original, a experiência pode ser agridoce. A versão cinematográfica é uma investigação mais simples e, por vezes, simplista, que captura a simpatia dos personagens, mas deixa para trás a complexidade, a crítica social e a alma idiossincrática que fazem do livro uma obra-prima.

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