O novo terror do Shudder, ‘Bom Menino’ (Good Boy), chega com uma das premissas mais originais do ano: uma história de casa mal-assombrada contada inteiramente pelo ponto de vista do cachorro Indy, um carismático Toller Retriever. O resultado é um fascinante exercício de técnica cinematográfica que se apoia totalmente no carisma de seu protagonista canino, mas que, infelizmente, estica uma boa ideia além do que ela suporta.
O filme é um grande exemplo de como a técnica (neste caso, a montagem) pode sustentar uma história, mas também expõe os limites de quando o roteiro não a acompanha.
A Trama: Terror em Focinho de Cachorro
A história é simples: Indy e seu dono, Todd (Shane Jensen), um homem com uma doença pulmonar, se mudam para uma casa de campo isolada. Quase imediatamente, o cachorro começa a perceber presenças estranhas, figuras sinistras e eventos sobrenaturais ligados ao antigo dono da casa, forçando o “bom menino” a tentar proteger seu humano.
A Genialidade: Uma Aula de Efeito Kuleshov
O que torna Bom Menino um experimento tão bem-sucedido é sua aula prática sobre o Efeito Kuleshov. A técnica, criada pelo cineasta soviético Lev Kuleshov nos anos 1920, prova que a emoção de um ator não está na performance, mas na justaposição de imagens.
O diretor Ben Leonberg usa isso com maestria: um plano neutro do cachorro Indy olhando para algo é seguido por um plano de um canto escuro do quarto. O público, e não o cachorro, cria a sensação de “medo”. Ao justapor o olhar do cão com os eventos sobrenaturais, o diretor “cria” uma atuação canina complexa, cheia de medo, confusão e lealdade, sem a necessidade de diálogos. É impressionante.
O Protagonista: Indy Carrega o Filme
O carisma de Indy é inegável. É impossível não torcer por ele e não sentir seu pavor. O fato de Indy ser o animal de estimação real do diretor, e não um cão treinado para atuar, torna seus movimentos e reações ainda mais naturais, e o trabalho de montagem para criar emoções a partir disso é ainda mais impressionante.
Os Problemas: Um Curta Esticado
A genialidade técnica, no entanto, não consegue esconder que a história de Bom Menino é muito simples. Mesmo com apenas 73 minutos, o filme parece esticado ao máximo, repetindo situações e, por vezes, quebrando sua própria regra de “ponto de vista” ao usar ângulos de câmera que o cachorro não poderia ter. A trama se torna um ciclo de “Indy vê algo assustador / Indy tenta avisar Todd / Todd não entende”, o que se torna cansativo.
Veredito
‘Bom Menino’ é um experimento que vale a pena ser visto. É um lembrete brilhante de como a montagem é fundamental para a linguagem do cinema. Indy entrega, sem dúvida, uma das melhores “atuações” do ano. No entanto, o filme caminha na linha tênue de se apoiar excessivamente no sofrimento do animal para gerar engajamento, sem oferecer uma narrativa que se sustente por conta própria. É uma ideia brilhante para um curta-metragem, mas um longa-metragem apenas mediano.