Em meio a dramas militares e séries adolescentes, ‘Boots’, a nova aposta da Netflix, se destaca por ocupar um espaço raro e necessário: o da identidade queer dentro das forças armadas. Criada por Dustin Lance Black (roteirista vencedor do Oscar por Milk), a série é um retrato emocionalmente honesto sobre o que significa se encaixar em um ambiente que exige uniformidade absoluta — e o preço que se paga para ser aceito.
A Trama: Sobrevivendo ao Silêncio
Inspirada no livro de memórias The Pink Marine, de Greg Cope White, a história acompanha Cameron Cope (Miles Heizer, de 13 Reasons Why), um jovem gay de 18 anos que, nos anos 1990, se alista no Corpo de Fuzileiros Navais para seguir seu melhor amigo. O que começa como uma tentativa de provar sua força se transforma em uma jornada de sobrevivência, onde ele precisa esconder sua verdadeira identidade sob a política do “Don’t Ask, Don’t Tell” (Não pergunte, não conte).

Atuações que Desafiam o Silêncio
O eixo emocional da série é Miles Heizer, que entrega uma performance contida e poderosa. Sua atuação brilha nos silêncios, nos olhares assustados e na resiliência silenciosa de um jovem forçado a se tornar invisível para sobreviver. O elenco de apoio é igualmente sólido, com destaque para Vera Farmiga, como a mãe superprotetora, e Dermot Mulroney, como um sargento complexo que se torna um espelho inesperado para o protagonista.

Análise: Masculinidade Como Prisão e Palco
Mais do que uma série sobre o exército, Boots é sobre a performance da identidade. A masculinidade tóxica do ambiente militar é tratada como um ritual de passagem e, ao mesmo tempo, uma prisão. O treinamento brutal serve como uma metáfora para o processo de autodescoberta de Cameron, que aprende a suportar o peso do uniforme, tanto literal quanto simbolicamente.
A direção equilibra momentos de realismo quase documental, que lembram Nascido para Matar, com a ternura de dramas de amadurecimento como Heartstopper, criando um tom único que reflete a confusão do próprio protagonista.
Veredito
‘Boots’ é, acima de tudo, uma história sincera sobre vulnerabilidade em meio à dureza. Mesmo com um ritmo irregular em alguns momentos, a série comove por sua honestidade, suas atuações profundas e sua direção segura. É uma obra que desafia os estereótipos do gênero militar e da representação queer, lembrando que a maior forma de coragem é, muitas vezes, simplesmente existir.
Nota: 4/5