Crítica | Jacob Elordi Tem Atuação Monstruosa no Visualmente Deslumbrante, Mas Morno, ‘Frankenstein’ de Del Toro

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‘Frankenstein’ era o projeto de uma vida para Guillermo Del Toro. Fã declarado da obra de Mary Shelley, o diretor finalmente realizou seu sonho com o apoio da Netflix, reunindo um elenco estelar para sua versão do conto gótico. O resultado é um filme que, inegavelmente, carrega a assinatura visual de um mestre, mas que, em sua reverência, acaba soando mais comum do que deveria.

Um Espetáculo Visual Inegável

Ninguém duvidava que o filme seria um deslumbre, e Del Toro entrega exatamente isso. A direção de arte, os efeitos práticos e a maquiagem são impecáveis, reafirmando o cineasta como um artesão mestre na construção de mundos. Cada cenário, do laboratório de Victor à paisagem desolada, é uma pintura gótica. Tecnicamente, é mais um triunfo na filmografia do diretor de O Labirinto do Fauno e A Forma da Água.

O Desafio de uma História Conhecida

O maior obstáculo do filme é a própria familiaridade de sua trama. A tragédia do Prometeu moderno já foi contada inúmeras vezes, e a versão de Del Toro, apesar de apaixonada, luta para encontrar um ângulo novo. O roteiro aposta no elenco para trazer frescor, mas com resultados mistos. Mia Goth e Christoph Waltz, por exemplo, parecem presos a maneirismos de seus trabalhos anteriores, sem adicionar novas camadas aos seus personagens.

O Triunfo da Criatura: A Atuação de Jacob Elordi

A responsabilidade de carregar o filme recai, então, sobre seus dois protagonistas. Oscar Isaac compõe um Victor Frankenstein afetado, um “cientista louco rockstar” que funciona, mas é a Criatura que realmente dá alma ao projeto. E é aqui que o filme encontra seu maior trunfo.

Sob uma maquiagem impressionante, Jacob Elordi entrega uma performance monstruosa, no melhor sentido da palavra. Del Toro acerta ao focar nos sentimentos da Criatura, e Elordi aproveita cada segundo. Ele transita perfeitamente entre a melancolia de um ser que busca sentido para sua existência e a força aterrorizante de uma aberração rejeitada. É em sua jornada que o filme encontra seus momentos mais interessantes e emotivos. Curiosamente, é também neste trecho que o filme derrapa em um CGI de animais surpreendentemente fraco, um contraste bizarro com a excelência dos efeitos práticos.

Veredito

‘Frankenstein’ está longe de ser um filme ruim. É uma obra feita com paixão, carinho e uma atenção aos detalhes que só Guillermo Del Toro poderia oferecer, embalada pela bela trilha sonora de Alexander Desplat. No entanto, o diretor parece tão preso à missão de criar um espetáculo grandioso que sacrifica a sensibilidade que tornou obras como Pinóquio e A Forma da Água tão especiais.

O resultado é um filme belíssimo, elevado por uma atuação central fantástica, mas que no fim, soa morno e convencional — algo que nem a obra original de Mary Shelley, nem os melhores filmes de Del Toro, jamais foram.

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