Crítica | ‘Hamnet’ é um Espetáculo Doloroso e Inesquecível Sobre a Dor que Cria a Arte

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Após a jornada cósmica e divisiva de Eternos, a diretora vencedora do Oscar Chloé Zhao retorna ao seu cinema mais íntimo e naturalista com ‘Hamnet’. O resultado é uma obra-prima. Baseado no best-seller de Maggie O’Farrell e produzido por nomes como Steven Spielberg e Sam Mendes, o filme é uma exploração dolorosa, poética e inesquecível sobre o luto, o legado e como a arte mais profunda nasce da tragédia pessoal.

A Trama: A Dor por Trás de ‘Hamlet’

O filme reconta a gênese da obra mais famosa de William Shakespeare, não sob o ponto de vista do gênio, mas de sua esposa, Agnes (no filme, interpretada por Jessie Buckley). A trama acompanha o relacionamento apaixonado entre ela e um jovem dramaturgo (Paul Mescal), a vida em família e a tragédia que os redefine: a morte de seu único filho, Hamnet, aos 11 anos. A partir dessa dor, o filme explora como o luto do pai se transforma na criação da peça imortal, Hamlet.

A Direção Naturalista de Chloé Zhao

É difícil fugir dos superlativos para descrever o trabalho de Zhao. Ela constrói uma obra visualmente deslumbrante, onde a natureza não é apenas cenário, mas uma extensão da alma de seus personagens, especialmente de Agnes e sua profunda conexão pagã com a terra. A diretora filma a Inglaterra do século XVI com uma sensibilidade que transforma cada quadro em uma pintura, capturando a beleza e a brutalidade da vida com o mesmo olhar honesto.

Atuações Arrebatadoras: Jessie Buckley e Paul Mescal

O filme é ancorado por duas das melhores atuações do ano. Paul Mescal, como o futuro Bardo, é impecável, retratado por Zhao com uma aura mítica e vulnerável. No entanto, o filme pertence a Jessie Buckley. Sua jornada como Agnes é simplesmente extraordinária: ela transita da leveza de uma jovem apaixonada à sabedoria da maternidade e, por fim, ao luto devastador em uma performance que é, ao mesmo tempo, contida e explosiva. Nenhuma atuação até agora na temporada de premiações chega perto do que Buckley entrega aqui.

A Arte Nascida do Luto

O grande triunfo de Hamnet é como ele conecta a dor familiar aos temas universais de Hamlet sem nunca precisar de metáforas óbvias. A frase do fantasma na peça, “Lembra-te de mim”, torna-se o fio condutor do filme: o legado que sobrevive na memória, a arte como uma forma de eternizar quem se foi e o sacrifício como o eco definitivo do amor. A dor da família Shakespeare se torna a matéria-prima para uma reflexão sobre a própria finitude humana e a eterna busca por sentido — o mítico “Ser ou não ser”.

Veredito

‘Hamnet’ é uma experiência cinematográfica avassaladora. Um espetáculo visualmente poético, dirigido com uma sensibilidade ímpar e elevado por atuações que ficarão marcadas na história. Chloé Zhao não apenas entrega o melhor filme de sua carreira, mas também uma obra universal sobre como a arte mais bela pode nascer da dor mais profunda. Um favorito instantâneo ao Oscar e um dos grandes filmes desta década.

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