Crítica | ‘Harbin’ Transforma Luta pela Independência da Coreia em um Faroeste Épico e Artesanal

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O novo épico histórico do diretor sul-coreano Woo Min-ho, ‘Harbin’, é mais do que um relato sobre a luta pela independência da Coreia; é uma obra de arte técnica, um poema tonal que utiliza a linguagem de um gênero inesperado para dar alma a uma história real: o faroeste.

Exibido no Festival de Cinema Coreano (KOFF) em São Paulo, o filme se destaca como uma produção artesanal, ditada mais pela atmosfera e pela sugestão do que pela ação convencional, e se firma como um dos longas mais belos do ano.

A Trama: Uma Caçada por Justiça

A história nos transporta para o início do século XX e acompanha um grupo de ativistas da independência coreana, liderados por Ahn Jung-geun (Hyun Bin), que lutam contra a ocupação japonesa. Após uma derrota devastadora, eles se reúnem para planejar sua retaliação: o assassinato de Ito Hirobumi, uma autoridade chave do Japão, que está a caminho da cidade de Harbin, na China.

A Genialidade do “Faroeste Coreano”

O que se segue não é um thriller de espionagem, mas uma jornada pelas paisagens selvagens da Manchúria, que o diretor Woo Min-ho filma com as convenções de um clássico faroeste. Os heróis, vestidos com sobretudos e chapéus, são como bandoleiros com uma causa. Eles atravessam desertos e montanhas nevadas, confrontam traidores e são perseguidos por um soldado japonês implacável, como se fossem caubóis em uma terra sem lei.

Essa decisão criativa é um golpe de gênio. Ao invés de se prender à burocracia de um relato histórico, o filme abraça o melodrama, o código de honra e o romantismo trágico do faroeste, tornando a jornada dos heróis mais épica e emocionalmente ressonante.

Uma Obra de Arte Técnica

O sucesso dessa abordagem se deve a uma verdadeira “equipe dos sonhos” do cinema sul-coreano. A fotografia é de Hong Kyung-pyo, o gênio por trás de ‘Parasita’ e ‘Em Chamas’, que transforma cada cena em uma pintura esfumaçada e melancólica. A trilha sonora, de Cho Young-guk, colaborador de longa data de Park Chan-wook desde ‘Oldboy’, cria uma atmosfera de tensão e gravidade. Juntos, eles constroem um espetáculo visual e sonoro de primeiríssima linha.

Veredito

‘Harbin’ é um triunfo do cinema de autor. É um filme que usa a linguagem de um gênero clássico para contar uma história de importância nacional com uma beleza de tirar o fôlego. Visualmente deslumbrante e emocionalmente potente, é uma obra que prova o poder do cinema para reinterpretar a história de formas inesperadas e geniais.

O filme ainda não tem previsão de estreia no circuito comercial brasileiro.

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