Crítica | Tessa Thompson Brilha em ‘Hedda’, Adaptação Estilosa Mas Irregular de Nia DaCosta

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É uma pena que ‘Hedda’ chegue ao Brasil diretamente no Prime Video (em 29 de outubro), pois a nova obra da diretora Nia DaCosta (Candyman) é um espetáculo visual que merecia a tela grande. A fotografia texturizada e a direção de arte impecável são um deleite. No centro de tudo, Tessa Thompson entrega uma performance magistral como a icônica Hedda Gabler, mas o filme ao seu redor é um exercício de estilo mais admirável do que emocionante.

A Trama: Um Jogo de Xadrez Psicossexual

Baseado na peça clássica de Henrik Ibsen, o filme se passa quase inteiramente durante uma festa na mansão dos recém-casados Hedda (Thompson) e George Tesman (Tom Bateman). A noite se torna um tabuleiro de xadrez de intrigas, ciúmes e manipulação com a chegada de convidados que representam ameaças ao frágil equilíbrio do casal: o poderoso Juiz Brack (Nicholas Pinnock), que detém um poder sombrio sobre Hedda, e a Dra. Eileen Lovburg (Nina Hoss), uma brilhante rival acadêmica de George com quem Hedda compartilha um passado íntimo.

Os Acertos: Tessa Thompson e a Direção Estilosa

Nia DaCosta cria uma adaptação única, misturando a linguagem formal de um drama de época com a energia afiada de um thriller psicossexual contemporâneo. No centro dessa visão está Tessa Thompson, que entrega a melhor atuação de sua carreira. Com um olhar preciso e calculista, ela captura as mil emoções de uma mulher consumida pelo ciúme, desejo e tédio, tratando cada interação como um movimento em um jogo mortal.

A direção de DaCosta é igualmente impressionante, criando uma atmosfera de opulência e tensão que é visualmente deslumbrante e inegavelmente divertida de assistir.

Os Tropeços: Estilo Sobre Substância

O problema é que Hedda parece mais interessado em seu próprio estilo do que em seus personagens. O roteiro de DaCosta não se aprofunda o suficiente para que nos importemos com aquelas figuras além de uma curiosidade mórbida. Assistir a pessoas ricas e bonitas se destruindo com diálogos afiados é prazeroso, mas falta uma camada de humanidade que nos conecte emocionalmente à tragédia que se desenrola.

Essa frieza se agrava no ato final, quando as consequências se tornam mais violentas. Os momentos que deveriam partir o coração chegam sem impacto, pois o filme nunca nos convenceu a investir de verdade naquelas pessoas.

Veredito

‘Hedda’ é um filme visualmente impecável e intelectualmente estimulante, ancorado por uma performance tour-de-force de Tessa Thompson que, por si só, já vale a pena. No entanto, sua distância emocional e o foco excessivo no estilo o tornam uma obra mais para ser admirada do que sentida. É um exercício cinematográfico fascinante, mas que, no fim, deixa uma sensação de frieza.

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