Crítica | ‘Tron: Ares’ é um Espetáculo Visual Deslumbrante com um Coração Vazio

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‘Tron: Ares’ chega aos cinemas com a difícil missão de reativar uma franquia que sempre viveu no limiar entre o fascínio tecnológico e um certo vazio narrativo. O novo capítulo, dirigido por Joachim Rønning, não foge a essa regra. Pelo contrário, ele a abraça, entregando um filme esteticamente impecável, mas que, ironicamente, parece tão programado e carente de emoções quanto a inteligência artificial que retrata.

O filme estreia hoje, 9 de outubro, nos cinemas.

A Trama: Em Busca da Permanência

A história acompanha Ares (Jared Leto), um programa senciente do mundo digital que cruza a fronteira para o mundo real. Sua missão é encontrar o “código da permanência”, uma forma de garantir que a consciência digital possa existir de forma eterna. Essa busca o coloca em rota de colisão com humanos que temem sua existência, como a visionária da ENCOM, Eve (Greta Lee), e outros que desejam explorá-la, como o herdeiro da Dillinger Systems, Julian (Evan Peters).

A Estética Fria do Novo Mundo

Visualmente, o filme é um poderio. Rønning troca o espetáculo de neon de Tron: O Legado por uma estética mais fria, corporativa e realista. A grande estrela aqui é a trilha sonora industrial de Trent Reznor e Atticus Ross (Nine Inch Nails), que substitui a grandiosidade eletrônica do Daft Punk por uma textura mais orgânica e suja, que casa perfeitamente com a ideia de um programa digital tentando se adaptar à crueza do mundo real.

O Vazio Narrativo: Um Roteiro Escrito por Algoritmo?

Se a forma é impressionante, o conteúdo decepciona. O roteiro parece incapaz de decidir o que fazer com sua premissa. A jornada de Ares, que flerta com a de um Frankenstein digital ou de um messias tecnológico, nunca se aprofunda. Os personagens de Greta Lee e Evan Peters são meros avatares de ideias — a utopia e a ganância — que nunca se desenvolvem.

O filme fala sobre a busca da I.A. por uma alma, mas ele mesmo carece de uma. A estrutura é tão previsível que parece ter sido escrita por um software, tornando a experiência visualmente poderosa, mas emocionalmente rasa.

Veredito

A grande contradição de ‘Tron: Ares’ é que ele quer discutir a permanência, mas se contenta com o efêmero espetáculo visual. Quer questionar a ética das máquinas, mas se sente como um produto feito por uma. Ainda assim, há algo de fascinante em sua beleza fria. Quarenta e três anos depois de sua criação, a franquia Tron talvez tenha encontrado seu propósito não em dar respostas, mas em continuar a fazer a mesma pergunta: existe alma dentro da máquina? Ares não responde, mas mantém o loop ativo.

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