É difícil imaginar um momento em que Harrison Ford não fosse um dos maiores e mais confiantes astros do planeta. No entanto, após a explosão estratosférica de “Star Wars” em 1977, o ator viveu um curioso paradoxo: era mundialmente famoso, mas lutava desesperadamente para escapar da sombra de Han Solo. Essa busca por legitimação o levou a aceitar um papel em um filme de guerra que ele, com sua franqueza característica, descreveria mais tarde como “uma enorme pilha de lixo”.
A Armadilha do Sucesso e o Medo do Rótulo
O sucesso de “Star Wars” foi uma faca de dois gumes. O filme se tornou um fenômeno cultural maior que seus próprios atores, e Ford se viu rapidamente rotulado como o contrabandista espacial cínico. Em uma citação do livro “The Making of Star Wars”, de J.W. Rinzler, ele revelou seu anseio da época: “Eu vi o sucesso do primeiro filme como uma oportunidade de ampliar meus horizontes. Eu queria ser reconhecido como ator, não apenas como alguém associado a Star Wars”.
O problema é que os papéis com a “humanidade palpável” que ele buscava simplesmente não estavam aparecendo.
A Escolha Inevitável e o Arrependimento
A única oferta significativa que surgiu foi para “Comando 10 de Navarone” (1978), a tardia e malfadada sequência do prestigiado clássico de 1961, “Os Canhões de Navarone”. Pressionado pela falta de opções e pelo desejo de provar seu valor, Ford aceitou. “Foi a única oferta que recebi que não fosse de Han Solo”, admitiu, acrescentando que o bom crédito no cartaz — logo após o astro Robert Shaw (Tubarão) — também pesou na decisão.
A experiência, no entanto, foi desastrosa. O filme foi um fracasso de crítica e bilheteria, e Ford não poupa palavras para descrevê-lo: “Acabei em uma enorme pilha de lixo como ‘Comando 10 de Navarone’, onde simplesmente não há nada que se possa fazer [como ator]”. A frustração de ter trocado um ícone da cultura pop por um projeto sem alma e mal executado era evidente.
A Redenção do Chicote
Felizmente, essa “pilha de lixo” foi rapidamente soterrada pelo sucesso avassalador que viria a seguir. Com “O Império Contra-Ataca” e, crucialmente, “Os Caçadores da Arca Perdida” (1981), Harrison Ford não apenas solidificou seu status de astro, mas criou um segundo personagem icônico e atemporal, Indiana Jones, provando ao mundo e a si mesmo que era muito mais do que apenas Han Solo. O resto, como se sabe, é história do cinema.