Em meio a um mar de filmes de ação genéricos, ‘Motor City’ chega ao Festival de Toronto com uma proposta audaciosa e revigorante: uma história de vingança contada quase inteiramente sem diálogos, movida por uma trilha sonora pop e pela presença física imponente de Alan Ritchson. O resultado é um experimento estiloso e brutal que, na maior parte do tempo, funciona de forma brilhante.
Dirigido por Potsy Ponciroli, do aclamado faroeste O Retorno da Lenda, o filme pega uma premissa clássica — um homem (Ritchson) incriminado por um traficante (Ben Foster) busca vingança para proteger sua amada (Shailene Woodley) — e a transforma em algo singular.
A Premissa: Uma Ópera Pop de Vingança
A grande aposta de Motor City é ter aproximadamente dez linhas de diálogo em todo o filme. No lugar das palavras, a narrativa é conduzida por uma seleção de hits que vão de David Bowie e Fleetwood Mac a Donna Summer. Cada música dita o tom e a emoção da cena, transformando sequências de ação em verdadeiros números de um musical violento.
No início, a escolha é genial. A ausência de falas cria uma expectativa crescente, e quando as primeiras palavras finalmente são ditas em um momento de clímax dramático, o impacto é imenso.
Quando a Aposta Funciona (e Quando Cansa)
O conceito, que soa brilhante no papel, tem uma execução com altos e baixos. O diretor abusa de câmera lenta e a fórmula “música começa, ação explode” torna-se um pouco repetitiva na metade do filme.
No entanto, quando o longa acerta, ele acerta em cheio. A ação, especialmente no terceiro ato, é visceral e bem coreografada. Uma sequência de luta brutal entre Ritchson e Pablo Schreiber (Halo) dentro de um elevador já pode ser considerada uma das melhores do ano.
Alan Ritchson: Carisma em Silêncio
Este filme é o veículo perfeito para Alan Ritchson. Apoiando-se em seu carisma e fisicalidade, o astro de Reacher prova que pode carregar um filme sem precisar de diálogos ou frases de efeito. Sua performance silenciosa, mas expressiva, ancora a jornada de vingança e o estabelece como um verdadeiro astro de ação. A primeira cena do filme, com Ritchson em um telhado iluminado por neon, é um deleite para os fãs que o pedem como o próximo Batman do DCU.
Veredito
‘Motor City’ é um experimento de gênero ousado e memorável. Com seu estilo de videoclipe e momentos de humor pastelão que podem não funcionar para todos, o filme certamente dividirá o público. Contudo, para quem estiver disposto a embarcar em sua proposta, encontrará uma obra de ação visceral, estilosa e refrescantemente original, que se destaca com louvor em meio à mesmice.
