Criar uma franquia original de sucesso em Hollywood é uma raridade. Mantê-la no auge por três filmes é quase um milagre. Mas Rian Johnson conseguiu. ‘Vivo ou Morto: Um Mistério Knives Out’ não apenas conclui a primeira trilogia de Benoit Blanc com maestria, como também se arrisca ao mergulhar no terror gótico, provando a genialidade de seu criador.
Após sua estreia no Festival de Toronto, fica claro: o detetive com sotaque sulista está melhor do que nunca.
A Trama: Um Mistério Divino
Desta vez, Benoit Blanc (Daniel Craig) é chamado a uma pequena e isolada cidade para investigar a morte de um padre autoritário (Josh Brolin). O principal suspeito é seu novo e carismático assistente (Josh O’Connor), que chegou à paróquia sob circunstâncias misteriosas.
Como manda a tradição da saga, o crime está rodeado por um grupo de personagens excêntricos, incluindo um médico (Jeremy Renner), um casal de youtubers (Kerry Washington e Daryl McCormack), uma musicista com uma doença rara (Cailee Spaeny), uma beata fervorosa (Glenn Close) e um escritor em crise (Andrew Scott).
O Show de Josh O’Connor e o Charme de Daniel Craig
Embora o roteiro de Johnson seja, como sempre, afiado, o grande destaque de ‘Vivo ou Morto’ é a performance de Josh O’Connor. O ator, que já havia brilhado em Rivais, rouba o filme para si ao entregar um personagem multifacetado: ora gentil, ora traumatizado, ora ameaçador. É uma atuação espetacular, que se eleva ainda mais quando contracena com Daniel Craig.
Craig, por sua vez, está visivelmente mais confortável no papel de Benoit Blanc. A aura macabra do novo caso contém os exageros do detetive vistos em Glass Onion, aproximando-o do tom do primeiro filme. O embate de Blanc, um cético, com o mundo da fé gera diálogos brilhantes, cheios de deboche e inteligência.
A Direção: Rian Johnson no Terreno do Terror
Inspirado pelos mistérios do Padre Brown de G.K. Chesterton, Rian Johnson troca a estética de Agatha Christie por uma abordagem mais sombria e atmosférica. O visual do filme é o mais impressionante da trilogia, com um uso magistral de luz e sombras que transforma a igreja da cidade em um personagem.
No ato final, Johnson abraça sem medo elementos do terror, misturando o slasher com o suspense psicológico, o que confere à resolução do caso um peso e uma urgência inéditos na franquia. O trabalho técnico, da direção de arte à trilha sonora de Nathan Johnson, é impecável.
Veredito
‘Vivo ou Morto: Um Mistério Knives Out’ é a prova do talento de Rian Johnson como um dos poucos verdadeiros autores trabalhando com grandes orçamentos em Hollywood. O filme é divertido, inteligente, visualmente deslumbrante e consegue inovar dentro de sua própria fórmula. Ao chegar ao terceiro capítulo com tamanha qualidade, o maior mistério que a franquia desvendou foi o de como se manter brilhante e original.